terça-feira, 20 de maio de 2008
Alegoria de Platão
Revista História e Pensamento 6
Que relações podemos fazer entre a Alegoria da Caverna de Platão e As sombras da vida de Maurício de Souza?
As sombras da vida de Maurício de Souza
quarta-feira, 30 de abril de 2008
Os Pré-Socráticos
É durante o período que se estende aproximadamente do século VI a.C. ao início do século IV a.C., que viveram na Grécia antiga filósofos de idéias diversas, conhecidos conjuntamente como “Pré-Socráticos”.
Os historiadores da filosofia grega costumam distinguir neste período quatro grandes tendências ou escolas que não são sucessivas mas, em geral, coexistentes, embora os continuadores não mantenham a totalidade das idéias dos fundadores. São pré-socráticas pelos temas que abordam e não porque todos os seus membros teriam nascido e vivido antes de Sócrates. As escolas pré-socráticas são assim designadas para indicar aquele pensamento cuja preocupação central e cuja investigação principal eram a phýsis. São as escolas de cosmologia ou de física (no sentido grego desse termo).
As escolas de cosmologia ou física:
1 – Escola Jônica (Ásia Menos), cujos principais representes são Tales de Mileto, Anaximandro de Mileto, Anaxímenes de Mileto e Heráclito de Éfeso;
2 – Escola Pitagórica ou Itálica (Magna Grécia), cujos principais representantes são Pitágoras de Samos, Alcmeão de Crotona, Filolau de Crotona e Árquitas de Tarento;
3 – Escola Eleata (Magna Grécia), cujos principais representantes são Xenófanes de Colofão, Parmênides de Eléia, Zenão de Eléia e Melissos de Samos;
4 – Escola Atomista (Trácia) principais representantes: Leucipo de Abdera e Demócrito de Abdera;
Essa classificação apresenta um problema porque nela não há lugar para dois dos maiores filósofos pré-socráticos: Empédocles de Agrigento e Anaxágoras de Clazómena. Por esse motivo, preferimos propor que a quarta escola receba uma outra denominação. As três primeiras escolas possuem em comum o fato de tratarem a phýsis como unitária, enquanto os atomistas, Empédocles e Anaxágoras concebem a phýsis como pluralidade.
4 – Escola da Pluralidade, cujos principais representantes são os atomistas Leucipo e Demócrito de Abdera, Empédocles de Agrigento e Anaxágoras de Clazómena. São os filósofos que tentaram conciliar Heráclito e Parmênides para salvar a filosofia de sua primeira grande crise.
Nascimento da Filosofia e seu vocabulário
A filosofia nasce como cosmologia, isto é, voltada para a explicação da natureza (o princípio primordial gerador de todas as coisas, o processo de formação e de ordem do mundo, o ciclo das gerações e dissoluções da realidade), porque ela nasce no contexto da pólis, há, como diz Jaeger, “uma projeção da pólis no universo”, isto é, o vocabulário das relações sociopolíticas e morais é o vocabulário usado para explicar a natureza.
Cosmos significa, inicialmente, a ação das pessoas num comportamento conforme estabelecido; depois, indica a ação humana que produz ordem nas coisas; e, finalmente, com a filosofia, passa a referir-se à ordem e organização do mundo. Os primeiros filósofos afirmam que o cosmos é uma ordem regrada ou normativa, aítia (seu sentido está no campo jurídico dos gregos antigos). Na ordem natural, as coisas se unem e se separam segundo regras e causas, e a união e a separação entre as coisas são expressas no vocabulário das paixões: amor (éros) e ódio (neîkos).
Alétheia, lógos, kósmos, díke, aítia, éros, neîkos são conceitos-chave da cosmologia (e de toda a filosofia grega), mas esse quadro só se completa acrescentando, necessariamente, mais três conceitos constitutivos do nascimento da filosofia e de sua história: arkhé, phýsis e kínesis.
Os primeiros filósofos buscam a arkhé, o princípio absoluto (primeiro e último) de tudo o que existe. A arkhé é o que vem e está antes de tudo, no começo e no fim de tudo, o fundamento, o fundo imortal e imutável, incorruptível de todas as coisas, que as faz surgir e as governa. É a origem, mas não como algo que ficou no passado e sim como aquilo que, aqui e agora, dá origem a tudo, perene e permanentemente.
Phýsis possui três sentidos principais, derivados da idéia de um processo de fazer surgir e desenvolver-se: 1 – a ação de fazer nascer, formação, produção; 2 – a natureza íntima e própria de um ser, a maneira de ser de alguma coisa, a disposição ou caráter espontâneo e natural de um ser; 3 – a natureza como força criadora e produtora dos seres, a constituição geral de todos os seres. É a fonte originária de todas as coisas, a força que as faz nascer, brotar, desenvolver-se, renovar-se incessantemente; é a realidade primeira e última, subjacente a todas as coisas de nossa experiência. É o que é primário, fundamental e permanente, em oposição ao que é segundo, derivado e transitório. É a manifestação visível da arkhé, o modo como esta se faz percebida e pensada.
A phýsis é alétheia: o ser que não é esquecido, que é permanentemente lembrado porque está manifesto perpetuamente. A alétheia grega se diferencia da nossa verdade- “adequação estabelecida entre aquilo que representamos e aquilo que percebemos e, por outro lado, na conformidade existente entre o que enunciamos e os princípios lógicos que regem o nosso pensamento-, alétheia, em grego, é formada pela palavra léther - que significa noite, escuridão, esquecimento -, acrescida da primeira letra do alfabeto grego, a, que possui um sentido privativo. A-létheia, a verdade, significa rigorosamente não-noite, não-escuridão, não-esquecimento, traduzindo-se, positivamente, como desvelamento. Os Pré-Socráticos oferecem explicações inéditas acerca da origem das coisas sensíveis (desligadas das explicações míticas), trazendo uma nova alétheia como proposta de conciliação do homem com a totalidade natural. Os Pré-Socráticos inauguram uma nova maneira de pensar: o lógos, o discurso racional da Filosofia como explicação das origens e do funcionamento da Natureza.”
A phýsis por ser manifestação da arkhé e a totalidade do que é, por ser o fundo perene e imortal de tudo o que nasce e morre, os primeiros filósofos afirmaram que “nada vem do nada e nada retorna ao nada”. Não há o nada. Há phýsis. Por isso os primeiros filósofos são chamados “homens da phýsis”, physiologói, isto é, físico. Porque nada vem do nada, porque a arkhé e a phýsis são eternas, a física grega – isto é, a cosmologia – afirma: o mundo é eterno; e declara: não há criação do mundo a partir do nada.
O que espanta os primeiros filósofos ou físicos, o que lhes causa admiração e melancolia é a perpétua instabilidade das coisas, sua aparição e desaparição, o nascimento e a morte, a geração e a corrupção dos seres. Numa palavra, a mudança. Kínesis significa movimento. Mas, em grego, movimento não é, como para nós, apenas locomoção ou mudança de lugar.
Movimento são todas as mudanças que um ser pode sofrer: mudanças qualitativas, quantitativas e de lugar. E também nascer e perecer. Os primeiro filósofos – e depois deles, toda a filosofia – se espantam com a kínesis, com o movimento ou, como escrevem os historiadores da filosofia, com o devir incessante da natureza, da qual o homem é parte.
Se quiséssemos resumir as preocupações que se manifestam no nascimento da filosofia, diríamos que estão nas perguntas sobre o kósmos, a phýsis e a kínesis.
Qual é a origem de todas as coisas? Como um único princípio pode dar origem à multiplicidade das coisas? Como aquilo que permanece sempre jovem, imortal e idêntico a si mesmo pode dar origem ao que é diferente dele, perecível e múltiplo? Como o uno dá origem ao múltiplo? Como e por que as coisas se movem? Como o imutável pode dar origem ao mutável? Como o múltiplo retorna ao uno?
As principais características da Filosofia nascente conforme Burnet:
1 – é uma cosmologia, isto é, uma explicação racional sobre a ordem presente ou atual do mundo: sua origem ou causas, sua forma, suas transformações e repetições, seu término;
2 – seu pressuposto básico é que “nada vem do nada e nada retorna ao nada”: não há criação a partir do nada...;
3 – o fundo imortal e perene de onde tudo brota e para onde tudo regressa é a phýsis, qualidade (s) primordial da origem e constituição de todos os seres;
4 – a preocupação central dos físicos ou cosmólogos é com o devir ou o vir a ser, isto é, com a kínesis, com o movimento (a transformação dos seres). A preocupação com o devir se expressa em questões variadas que podem ser sintetizadas em duas: a- como o uno/idêntico a si mesmo (a phýsis) se torna múltiplo e diferente de si mesmo (o kosmos)?; b – como o múltiplo e diferente (os seres do mundo) pode provir do uno/idêntico e a ele retornar? Em resumo: partindo do uno (a phýsis), pergunta-se como o múltiplo é possível; ou partindo do múltiplo (o kosmos), pergunta-se como o uno é possível;
5 – a preocupação com o devir ou o vir a ser levará, pouco a pouco, os filósofos a distinguir entre a aparência do mundo (os seres percebidos diretamente por nossos sentidos na experiência sensorial) e a verdade ou essência do mundo (o ser, alcançado exclusivamente pelo pensamento e, portanto, invisível como o antigo invisível dos poetas e adivinhos, mas um invisível racional e lógico). A phýsis, manifestação visível da arkhé invisível, oculta ou escondida, aparecem todas as coisas, mas sua verdadeira aparição será – no decorrer da filosofia pré-socrática – sua manifestação para o pensamento. A phýsis é vista pelo olho do espírito, embora percebida pelos olhos do corpo. A phýsis será visível para o pensamento e invisível para os órgãos dos sentidos, isto é, para a percepção sensorial.
Condições históricas-política para o surgimento dos Pré-Socráticos:
Nas cidades gregas da Ásia Menos, no final do século VI a. C. surge uma nova atitude diante dos questionamentos sobre a Natureza. Afasta-se da estrutura mítica tradicional para o lógos, para a razão. Condição da Filosofia, a razão surge como forma de reflexão inédita acerca da natureza, inaugurando uma maneira de pensar.
A reflexão filosófica veio à luz não graças a um milagre, mas sim em razão de circunstâncias geográficas e históricas muito precisas, nas quais o contexto e as contingências por ele engendradas favoreceram a mudança de orientação na forma de pensar do homem ocidental. É no âmbito da Cidade-Estado que se dá a emergência da razão; o nascimento do pensamento racional parece, pois estar
ligado ás relações sociais que se desenvolveram a partir da polis.
Entre os séculos VIII e VII a.C. surgem na Ásia menor as primeiras Cidades-Estado. Na realeza micênica – organização estatal que surgiu na Grécia por volta do século XII a.C. – o poder soberano era imposto pelo personagem real, o déspota divino, na organização da Cidade-Estado ou polis, o exercício político se fará em um meio social regido pela associação de cidadãos com direitos iguais, com um certo prazer em se associar – que constitui a amizade e a rivalidade – e um gosto especial pela troca de opiniões. Nessa sociedade de iguais a democracia se esboça: os cidadãos assumem o poder de decisão e constituem leis que irão zelar pelo
espírito igualitário que garantirá a expansão das cidades.
E nesse meio de sociabilidade a palavra (lógos) surge como o principal instrumento de poder. Apresentando-se como um bem comum, meio de comando e domínio sobre os outros, a palavra passou a ser um direito político adquirido pelos cidadãos que participavam da gestão da cidade. Mas essa palavra como bem comum precedeu a aparição das cidades. É uma característica que já está presente entre os guerreiros remanescentes da antiga sociedade micênica, que possuíam um tipo comum de vida social igualitária, em que os interesses comuns eram decididos no espaço público (na ágora).
Todas as questões sociais eram submetidas à discussão, ao debate contraditório, tornando-se privilégio de toda a população citadina livre do sexo masculino. Transportando o procedimento guerreiro para o âmbito democrático da Cidade-Estado e ampliando-o por meio de reformas políticas, os gregos forjaram, assim, um meio de opinião (dóxa, em grego) um lugar onde as discussões proliferavam, as decisões se estabeleciam, as escolhas dos governantes se davam. Na nova organização, pelo poder da palavra, a política tomou a forma de um ágon, isto é, de uma disputa oratória, de um combate sujeito a regras que se estabelecia na ágora.
Conhecer os poderes da palavra sobre o outro passou a ser do interesse de todos. O discurso foi se tornando objeto de investigação, e o homem procurou tomar consciência da linguagem, de suas regras e eficácias. Surgiu a retórica – disciplina que analisa o discurso como instrumento de vitória nas lutas da assembléia e do tribunal-, dando começo a um processo de racionalização do discurso ou lógos. Pela
política, o lógos tomou a emergência do discurso filosófico.
Os saberes se tornaram públicos, as normas foram difundidas, os cultos deixaram de ser privilégios de castas: os conhecimentos foram democratizados juntamente com os valores e as descobertas intelectuais.
A organização jurídica era regida por leis, elaboradas no domínio público pela participação dos cidadãos, a divulgação completa dessas leis, que iriam garantir a estabilidade do campo social, exigiu dos gregos a introdução da escrita. Assim, a produção de textos começou a se multiplicar, tornando a palavra escrita o meio, por excelência, de divulgação das normas e dos conhecimentos pertencentes à cultura comum.
Ao longo de dois séculos o comércio se desenvolveu, houve expansão marítima provocando uma produção maior de riquezas, melhorando a economia das cidades e suas condições dentro delas.
As cidades vão desenvolvendo um próspero intercambio comercial e cultural entre si. Assim da política ao desenvolvimento econômico, a expansão cultural se tornou extraordinária, condicionando todo um processo inevitável de racionalização do organismo social.
É nessa época e contexto que surgem os pensadores Pré-Socráticos.
A razão que emergiu com os Pré-Socráticos apresentava-se como um pensamento acerca da Natureza. Impunha-se aos homens como uma verdade sobre o mundo físico, não se constituindo propriedade particular de um determinado indivíduo. Trata-se de um lógos comum à Natureza, que se desvelava ao homem por meio da palavra filosófica.
Bibliografia:
CHAUI, Marilena. Introdução à História da Filosofia: dos Pré-Socráticos à Aristóteles. SP,
Companhia das Letras. 2ª ed, 2002. pp.15-53; pp.493-512.
MACIEL JN. Auterives. Pré-socráticos - a invenção da razão. SP. Odysseus. 2003.p.9-38.
É durante o período que se estende aproximadamente do século VI a.C. ao início do século IV a.C., que viveram na Grécia antiga filósofos de idéias diversas, conhecidos conjuntamente como “Pré-Socráticos”.
Os historiadores da filosofia grega costumam distinguir neste período quatro grandes tendências ou escolas que não são sucessivas mas, em geral, coexistentes, embora os continuadores não mantenham a totalidade das idéias dos fundadores. São pré-socráticas pelos temas que abordam e não porque todos os seus membros teriam nascido e vivido antes de Sócrates. As escolas pré-socráticas são assim designadas para indicar aquele pensamento cuja preocupação central e cuja investigação principal eram a phýsis. São as escolas de cosmologia ou de física (no sentido grego desse termo).
As escolas de cosmologia ou física:
1 – Escola Jônica (Ásia Menos), cujos principais representes são Tales de Mileto, Anaximandro de Mileto, Anaxímenes de Mileto e Heráclito de Éfeso;
2 – Escola Pitagórica ou Itálica (Magna Grécia), cujos principais representantes são Pitágoras de Samos, Alcmeão de Crotona, Filolau de Crotona e Árquitas de Tarento;
3 – Escola Eleata (Magna Grécia), cujos principais representantes são Xenófanes de Colofão, Parmênides de Eléia, Zenão de Eléia e Melissos de Samos;
4 – Escola Atomista (Trácia) principais representantes: Leucipo de Abdera e Demócrito de Abdera;
Essa classificação apresenta um problema porque nela não há lugar para dois dos maiores filósofos pré-socráticos: Empédocles de Agrigento e Anaxágoras de Clazómena. Por esse motivo, preferimos propor que a quarta escola receba uma outra denominação. As três primeiras escolas possuem em comum o fato de tratarem a phýsis como unitária, enquanto os atomistas, Empédocles e Anaxágoras concebem a phýsis como pluralidade.
4 – Escola da Pluralidade, cujos principais representantes são os atomistas Leucipo e Demócrito de Abdera, Empédocles de Agrigento e Anaxágoras de Clazómena. São os filósofos que tentaram conciliar Heráclito e Parmênides para salvar a filosofia de sua primeira grande crise.
Nascimento da Filosofia e seu vocabulário
A filosofia nasce como cosmologia, isto é, voltada para a explicação da natureza (o princípio primordial gerador de todas as coisas, o processo de formação e de ordem do mundo, o ciclo das gerações e dissoluções da realidade), porque ela nasce no contexto da pólis, há, como diz Jaeger, “uma projeção da pólis no universo”, isto é, o vocabulário das relações sociopolíticas e morais é o vocabulário usado para explicar a natureza.
Cosmos significa, inicialmente, a ação das pessoas num comportamento conforme estabelecido; depois, indica a ação humana que produz ordem nas coisas; e, finalmente, com a filosofia, passa a referir-se à ordem e organização do mundo. Os primeiros filósofos afirmam que o cosmos é uma ordem regrada ou normativa, aítia (seu sentido está no campo jurídico dos gregos antigos). Na ordem natural, as coisas se unem e se separam segundo regras e causas, e a união e a separação entre as coisas são expressas no vocabulário das paixões: amor (éros) e ódio (neîkos).
Alétheia, lógos, kósmos, díke, aítia, éros, neîkos são conceitos-chave da cosmologia (e de toda a filosofia grega), mas esse quadro só se completa acrescentando, necessariamente, mais três conceitos constitutivos do nascimento da filosofia e de sua história: arkhé, phýsis e kínesis.
Os primeiros filósofos buscam a arkhé, o princípio absoluto (primeiro e último) de tudo o que existe. A arkhé é o que vem e está antes de tudo, no começo e no fim de tudo, o fundamento, o fundo imortal e imutável, incorruptível de todas as coisas, que as faz surgir e as governa. É a origem, mas não como algo que ficou no passado e sim como aquilo que, aqui e agora, dá origem a tudo, perene e permanentemente.
Phýsis possui três sentidos principais, derivados da idéia de um processo de fazer surgir e desenvolver-se: 1 – a ação de fazer nascer, formação, produção; 2 – a natureza íntima e própria de um ser, a maneira de ser de alguma coisa, a disposição ou caráter espontâneo e natural de um ser; 3 – a natureza como força criadora e produtora dos seres, a constituição geral de todos os seres. É a fonte originária de todas as coisas, a força que as faz nascer, brotar, desenvolver-se, renovar-se incessantemente; é a realidade primeira e última, subjacente a todas as coisas de nossa experiência. É o que é primário, fundamental e permanente, em oposição ao que é segundo, derivado e transitório. É a manifestação visível da arkhé, o modo como esta se faz percebida e pensada.
A phýsis é alétheia: o ser que não é esquecido, que é permanentemente lembrado porque está manifesto perpetuamente. A alétheia grega se diferencia da nossa verdade- “adequação estabelecida entre aquilo que representamos e aquilo que percebemos e, por outro lado, na conformidade existente entre o que enunciamos e os princípios lógicos que regem o nosso pensamento-, alétheia, em grego, é formada pela palavra léther - que significa noite, escuridão, esquecimento -, acrescida da primeira letra do alfabeto grego, a, que possui um sentido privativo. A-létheia, a verdade, significa rigorosamente não-noite, não-escuridão, não-esquecimento, traduzindo-se, positivamente, como desvelamento. Os Pré-Socráticos oferecem explicações inéditas acerca da origem das coisas sensíveis (desligadas das explicações míticas), trazendo uma nova alétheia como proposta de conciliação do homem com a totalidade natural. Os Pré-Socráticos inauguram uma nova maneira de pensar: o lógos, o discurso racional da Filosofia como explicação das origens e do funcionamento da Natureza.”
A phýsis por ser manifestação da arkhé e a totalidade do que é, por ser o fundo perene e imortal de tudo o que nasce e morre, os primeiros filósofos afirmaram que “nada vem do nada e nada retorna ao nada”. Não há o nada. Há phýsis. Por isso os primeiros filósofos são chamados “homens da phýsis”, physiologói, isto é, físico. Porque nada vem do nada, porque a arkhé e a phýsis são eternas, a física grega – isto é, a cosmologia – afirma: o mundo é eterno; e declara: não há criação do mundo a partir do nada.
O que espanta os primeiros filósofos ou físicos, o que lhes causa admiração e melancolia é a perpétua instabilidade das coisas, sua aparição e desaparição, o nascimento e a morte, a geração e a corrupção dos seres. Numa palavra, a mudança. Kínesis significa movimento. Mas, em grego, movimento não é, como para nós, apenas locomoção ou mudança de lugar.
Movimento são todas as mudanças que um ser pode sofrer: mudanças qualitativas, quantitativas e de lugar. E também nascer e perecer. Os primeiro filósofos – e depois deles, toda a filosofia – se espantam com a kínesis, com o movimento ou, como escrevem os historiadores da filosofia, com o devir incessante da natureza, da qual o homem é parte.
Se quiséssemos resumir as preocupações que se manifestam no nascimento da filosofia, diríamos que estão nas perguntas sobre o kósmos, a phýsis e a kínesis.
Qual é a origem de todas as coisas? Como um único princípio pode dar origem à multiplicidade das coisas? Como aquilo que permanece sempre jovem, imortal e idêntico a si mesmo pode dar origem ao que é diferente dele, perecível e múltiplo? Como o uno dá origem ao múltiplo? Como e por que as coisas se movem? Como o imutável pode dar origem ao mutável? Como o múltiplo retorna ao uno?
As principais características da Filosofia nascente conforme Burnet:
1 – é uma cosmologia, isto é, uma explicação racional sobre a ordem presente ou atual do mundo: sua origem ou causas, sua forma, suas transformações e repetições, seu término;
2 – seu pressuposto básico é que “nada vem do nada e nada retorna ao nada”: não há criação a partir do nada...;
3 – o fundo imortal e perene de onde tudo brota e para onde tudo regressa é a phýsis, qualidade (s) primordial da origem e constituição de todos os seres;
4 – a preocupação central dos físicos ou cosmólogos é com o devir ou o vir a ser, isto é, com a kínesis, com o movimento (a transformação dos seres). A preocupação com o devir se expressa em questões variadas que podem ser sintetizadas em duas: a- como o uno/idêntico a si mesmo (a phýsis) se torna múltiplo e diferente de si mesmo (o kosmos)?; b – como o múltiplo e diferente (os seres do mundo) pode provir do uno/idêntico e a ele retornar? Em resumo: partindo do uno (a phýsis), pergunta-se como o múltiplo é possível; ou partindo do múltiplo (o kosmos), pergunta-se como o uno é possível;
5 – a preocupação com o devir ou o vir a ser levará, pouco a pouco, os filósofos a distinguir entre a aparência do mundo (os seres percebidos diretamente por nossos sentidos na experiência sensorial) e a verdade ou essência do mundo (o ser, alcançado exclusivamente pelo pensamento e, portanto, invisível como o antigo invisível dos poetas e adivinhos, mas um invisível racional e lógico). A phýsis, manifestação visível da arkhé invisível, oculta ou escondida, aparecem todas as coisas, mas sua verdadeira aparição será – no decorrer da filosofia pré-socrática – sua manifestação para o pensamento. A phýsis é vista pelo olho do espírito, embora percebida pelos olhos do corpo. A phýsis será visível para o pensamento e invisível para os órgãos dos sentidos, isto é, para a percepção sensorial.
Condições históricas-política para o surgimento dos Pré-Socráticos:
Nas cidades gregas da Ásia Menos, no final do século VI a. C. surge uma nova atitude diante dos questionamentos sobre a Natureza. Afasta-se da estrutura mítica tradicional para o lógos, para a razão. Condição da Filosofia, a razão surge como forma de reflexão inédita acerca da natureza, inaugurando uma maneira de pensar.
A reflexão filosófica veio à luz não graças a um milagre, mas sim em razão de circunstâncias geográficas e históricas muito precisas, nas quais o contexto e as contingências por ele engendradas favoreceram a mudança de orientação na forma de pensar do homem ocidental. É no âmbito da Cidade-Estado que se dá a emergência da razão; o nascimento do pensamento racional parece, pois estar
ligado ás relações sociais que se desenvolveram a partir da polis.
Entre os séculos VIII e VII a.C. surgem na Ásia menor as primeiras Cidades-Estado. Na realeza micênica – organização estatal que surgiu na Grécia por volta do século XII a.C. – o poder soberano era imposto pelo personagem real, o déspota divino, na organização da Cidade-Estado ou polis, o exercício político se fará em um meio social regido pela associação de cidadãos com direitos iguais, com um certo prazer em se associar – que constitui a amizade e a rivalidade – e um gosto especial pela troca de opiniões. Nessa sociedade de iguais a democracia se esboça: os cidadãos assumem o poder de decisão e constituem leis que irão zelar pelo
espírito igualitário que garantirá a expansão das cidades.
E nesse meio de sociabilidade a palavra (lógos) surge como o principal instrumento de poder. Apresentando-se como um bem comum, meio de comando e domínio sobre os outros, a palavra passou a ser um direito político adquirido pelos cidadãos que participavam da gestão da cidade. Mas essa palavra como bem comum precedeu a aparição das cidades. É uma característica que já está presente entre os guerreiros remanescentes da antiga sociedade micênica, que possuíam um tipo comum de vida social igualitária, em que os interesses comuns eram decididos no espaço público (na ágora).
Todas as questões sociais eram submetidas à discussão, ao debate contraditório, tornando-se privilégio de toda a população citadina livre do sexo masculino. Transportando o procedimento guerreiro para o âmbito democrático da Cidade-Estado e ampliando-o por meio de reformas políticas, os gregos forjaram, assim, um meio de opinião (dóxa, em grego) um lugar onde as discussões proliferavam, as decisões se estabeleciam, as escolhas dos governantes se davam. Na nova organização, pelo poder da palavra, a política tomou a forma de um ágon, isto é, de uma disputa oratória, de um combate sujeito a regras que se estabelecia na ágora.
Conhecer os poderes da palavra sobre o outro passou a ser do interesse de todos. O discurso foi se tornando objeto de investigação, e o homem procurou tomar consciência da linguagem, de suas regras e eficácias. Surgiu a retórica – disciplina que analisa o discurso como instrumento de vitória nas lutas da assembléia e do tribunal-, dando começo a um processo de racionalização do discurso ou lógos. Pela
política, o lógos tomou a emergência do discurso filosófico.
Os saberes se tornaram públicos, as normas foram difundidas, os cultos deixaram de ser privilégios de castas: os conhecimentos foram democratizados juntamente com os valores e as descobertas intelectuais.
A organização jurídica era regida por leis, elaboradas no domínio público pela participação dos cidadãos, a divulgação completa dessas leis, que iriam garantir a estabilidade do campo social, exigiu dos gregos a introdução da escrita. Assim, a produção de textos começou a se multiplicar, tornando a palavra escrita o meio, por excelência, de divulgação das normas e dos conhecimentos pertencentes à cultura comum.
Ao longo de dois séculos o comércio se desenvolveu, houve expansão marítima provocando uma produção maior de riquezas, melhorando a economia das cidades e suas condições dentro delas.
As cidades vão desenvolvendo um próspero intercambio comercial e cultural entre si. Assim da política ao desenvolvimento econômico, a expansão cultural se tornou extraordinária, condicionando todo um processo inevitável de racionalização do organismo social.
É nessa época e contexto que surgem os pensadores Pré-Socráticos.
A razão que emergiu com os Pré-Socráticos apresentava-se como um pensamento acerca da Natureza. Impunha-se aos homens como uma verdade sobre o mundo físico, não se constituindo propriedade particular de um determinado indivíduo. Trata-se de um lógos comum à Natureza, que se desvelava ao homem por meio da palavra filosófica.
Bibliografia:
CHAUI, Marilena. Introdução à História da Filosofia: dos Pré-Socráticos à Aristóteles. SP,
Companhia das Letras. 2ª ed, 2002. pp.15-53; pp.493-512.
MACIEL JN. Auterives. Pré-socráticos - a invenção da razão. SP. Odysseus. 2003.p.9-38.
domingo, 30 de março de 2008
Do senso comum ao senso crítico
A Filosofia começa dizendo não às crenças e aos preconceitos do senso comum e, portanto, começa dizendo que não sabemos o que supúnhamos saber. Não queremos desmerecer a forma de pensar do homem comum, porém, deixar bem claro que a primeira fase do conhecimento precisa ser superado em direção a uma abordagem crítica e coerente. Esta duplicidade na palavra “saber” corresponde à distinção entre a simples opinião e o conhecimento racionalmente bem fundado.
A palavra saber é derivada da língua latina SAPERE e significa “ter sabor, ter gosto para”. A palavra saber está ligada ao sentido do paladar. Em um primeiro momento a palavra saber está ligada à experiência sensível. Logo, o saber do senso comum é a forma de conhecer a realidade em que se vive, age, mora, fala, integrando o homem em seu meio. Para sobreviver o homem teve que resolver alguns problemas práticos: como os do frio, calor, chuva, doença, sexo, amor, medo, morte etc. A experiência adquirida no enfrentar esses problemas produziu uma forma de conhecer o mundo e de enfrentá-lo. É o conhecimento empírico.
O conhecimento empírico ou do senso comum não explica o porquê das coisas. É um conhecimento que se basta a si próprio porque está ligado à própria experiência humana e permanece, justamente por isso, porque tem fins práticos imediatos. Ele não indaga nem investiga, ao contrário, está baseado na memória, imaginação e associação.
Esse tipo de conhecimento, pelo qual se organiza a nossa experiência comum do mundo, em nosso dia-a-dia, é que chamamos de senso comum. Ele define a maneira como sentimos o mundo e a nós mesmos dentro dele.
Algumas características do senso comum:
·é um conhecimento natural, sem esforço consciente, sem intenção, sem intervenção do desejo ou da vontade.
·é um conhecimento espontâneo e intuitivo. Ele surge como se não obedecesse a nenhuma determinação racional da consciência , quase do mesmo modo como aprendemos a respirar e a andar: é questão de tempo e a regra é a da intuição e da associação por analogia.
·é um conhecimento prático. Está ligado diretamente às nossas necessidades vitais.
·é impreciso => conceitos vagos, sem rigor, que não definem claramente seu conteúdo e seu alcance.
·é incoerente => associação, num mesmo raciocínio, de conceitos contraditórios, que se anulam em termos lógicos.
·é fragmentado => conceitos soltos, que não abrangem, de modo amplo e sistemático, o objeto estudado.
O senso comum é composto de conhecimentos soltos, superficiais, que não nasceram de reflexões profundas e abertas. É compartilhado pela maioria das pessoas. É constantemente marcado pela imprecisão, incoerência, fragmentação. O senso comum não é refletido, impõe-se sem críticas ao grupo social. Por ser um conjunto de concepções fragmentadas, muitas vezes incoerentes, condiciona a aceitação mecânica e passiva de valores não-questionados. Com freqüência se torna fonte de preconceitos, quando desconsidera opiniões divergentes.
O senso comum precisa se transformar em bom senso. Bom senso é a elaboração coerente do saber e a explicitação das intenções conscientes dos indivíduos livres. Segundo o filósofo Gramsci, o bom senso é “o núcleo sadio do senso comum.”
Ao contrário do senso comum, a Filosofia é uma atividade contínua e não algo que possamos atingir de uma vez por todas. Só conseguimos alcançar a Filosofia através da reflexão e da vivência filosófica. A missão da Filosofia é questionar as coisas estabelecidas, é problematizar, e muitas vezes tornar evidente uma realidade (denunciar um fato).
O SENTIDO DA PALAVRA FILOSOFIA
A Filosofia nasceu na Grécia, no século VI a. C.
Etimologicamente, a palavra Filosofia (philosophía) é formada por dois termos gregos:
philos => que traduz a idéia de amor
sophia => que significa sabedoria.
Filosofia, então, significa em sua estrutura verbal, amor à sabedoria, entendida como reflexão do homem acerca da vida e do mundo.
Sendo Filosofia amor à sabedoria e filósofo o amante do saber, esse saber não é qualquer saber. Esse saber se distingue do nosso primeiro saber. Se diferencia do saber do senso comum, aquele saber que se origina de nossas experiências sensíveis, aquele saber composto por opiniões sem fundamento, sem reflexão. O saber filosófico ultrapassa esse saber comum.
Conforme a tradição histórica, a criação da palavra Filosofia é atribuída ao grego Pitágoras.
Pitágoras, perguntado pelo príncipe Leonte, qual era a natureza de sua “sabedoria”, respondera: sou, apenas, um filósofo. Assumindo humildemente a posição de um “amante do saber”, alguém que procura a sabedoria, que busca alcançar a verdade.
A essência da Filosofia é a procura do saber e não a sua posse.
Se a Filosofia é a procura do saber e não a sua posse, podemos dizer que o trabalho filosófico é um trabalho de reflexão.
A palavra reflexão vem do verbo latino reflectere que significa voltar atrás. Filosofar, portanto, significa retornar, reconsiderar os dados disponíveis, revisar, examinar detidamente, prestar atenção e analisar com cuidado. A reflexão é o movimento pelo qual o pensamento volta-se para si mesmo, interrogando a si mesmo e colocando em questão o que já se conhece.
Com o decorrer do tempo, a palavra filosofia foi perdendo seu significado etimológico ( amor à sabedoria), passando a ser a própria sabedoria.
Na Grécia Antiga, o termo Filosofia passou a designar não apenas o amor a procura da sabedoria, mas um tipo especial de sabedoria. Aquela que nasce no uso metódico da razão, da investigação racional em busca do conhecimento. Nesse sentido o saber filosófico difere-se das explicações estabelecidas nos mitos.
Mito é um sistema de explicação fantasioso do mundo, expresso por narrativas fabulosas referentes a deuses, forças da natureza e seres humanos.
Ao contrário do mito, o saber filosófico procurava explicar o mundo por princípios racionais. A Filosofia preocupava-se com o desenvolvimento de raciocínios lógicos, tendo como finalidade desvendar as relações de causas e efeitos entre as coisas. O mito, por outro lado, tem um conteúdo explicativo que não busca convencer a consciência racional do homem. O mito atraí em torno de si toda a parcela do irracional existente no pensamento humano.
Com o nascimento da Filosofia (conhecimento racional do mundo) não significou o desaparecimento do mito. Por muito tempo ainda, os primeiros filósofos gregos compartilharam de diversas crenças míticas, enquanto desenvolviam o conhecimento racional que caracterizava a Filosofia.
O saber filosófico passou a designar, na Grécia Antiga, a totalidade do conhecimento racional desenvolvido pelo homem. Abrangia os mais diversos tipos de conhecimento, que se estendiam pela Matemática, Astronomia, Física, Biologia, Lógica, Ética etc. Todo o conjunto dos conhecimentos racionais integrava o universo do saber filosófico. À Filosofia interessava conhecer toda a realidade sem dividi-la em objetos específicos de estudo.
Na Idade Moderna, o vasto campo da Filosofia entrou em um processo de redução, na medida em que a realidade a ser conhecida passou a ser dividida, recortada, despertando estudos especializados. Aos poucos, conquistaram autonomia muitas ciências particulares, que se desligaram do abrangente saber filosófico. As ciências foram se especializando cada vez mais, e direcionando suas investigações a certos campos da realidade, como: a Matemática, Física, Química, Biologia, Antropologia, Psicologia, Sociologia etc.
Já em nossa época[O1] , prossegue esse processo de especialização do saber racional, pelo qual as diversas ciências particulares se desprendem da Filosofia e delimitam cada vez mais seus objetos de investigação científica.
Resta a Filosofia a busca da compreensão profunda de todos os seres, o trabalho de reflexão sobre os conhecimentos desenvolvidos por todas as ciências, a procura de respostas à finalidade, ao sentido e ao valor da vida e do mundo. À Filosofia, pertence o estudo geral dos seres, do nosso conhecimento e do valor das coisas. Em termos específicos, podemos situar dentro do campo filosófico aqueles estudos que se referem a temas como: Teoria do conhecimento, Fundamentos do saber científico, Lógica, Política, Ética, Estética etc.
Precisamos nos libertar do senso comum, aprendermos a desenvolver nosso senso crítico, ampliar nossa consciência reflexiva. A consciência reflexiva deverá estar voltada para:
·a consciência de si mesmo => crítica de si próprio enquanto pessoa e de seu papel individual e social, uma autocrítica;
·a consciência do mundo => compreensão do mundo natural e social e de suas possibilidades de mudanças.
Para iniciarmos o exercício filosófico, devemos partir da decisão de não aceitar como óbvias e evidentes as coisas, as idéias, os fatos, as situações, os valores, os comportamentos de nossa existência cotidiana; em tempo algum aceitá-los sem antes havê-los investigado e compreendido.
Analogia =>raciocínio por semelhança
Empírico => baseado na experiência comum, não metódica
Etimologia => parte da lingüística que estuda o étimo das palavras.
Étimo => o vocábulo que dá origem a outros, quanto ao significado.
A Filosofia começa dizendo não às crenças e aos preconceitos do senso comum e, portanto, começa dizendo que não sabemos o que supúnhamos saber. Não queremos desmerecer a forma de pensar do homem comum, porém, deixar bem claro que a primeira fase do conhecimento precisa ser superado em direção a uma abordagem crítica e coerente. Esta duplicidade na palavra “saber” corresponde à distinção entre a simples opinião e o conhecimento racionalmente bem fundado.
A palavra saber é derivada da língua latina SAPERE e significa “ter sabor, ter gosto para”. A palavra saber está ligada ao sentido do paladar. Em um primeiro momento a palavra saber está ligada à experiência sensível. Logo, o saber do senso comum é a forma de conhecer a realidade em que se vive, age, mora, fala, integrando o homem em seu meio. Para sobreviver o homem teve que resolver alguns problemas práticos: como os do frio, calor, chuva, doença, sexo, amor, medo, morte etc. A experiência adquirida no enfrentar esses problemas produziu uma forma de conhecer o mundo e de enfrentá-lo. É o conhecimento empírico.
O conhecimento empírico ou do senso comum não explica o porquê das coisas. É um conhecimento que se basta a si próprio porque está ligado à própria experiência humana e permanece, justamente por isso, porque tem fins práticos imediatos. Ele não indaga nem investiga, ao contrário, está baseado na memória, imaginação e associação.
Esse tipo de conhecimento, pelo qual se organiza a nossa experiência comum do mundo, em nosso dia-a-dia, é que chamamos de senso comum. Ele define a maneira como sentimos o mundo e a nós mesmos dentro dele.
Algumas características do senso comum:
·é um conhecimento natural, sem esforço consciente, sem intenção, sem intervenção do desejo ou da vontade.
·é um conhecimento espontâneo e intuitivo. Ele surge como se não obedecesse a nenhuma determinação racional da consciência , quase do mesmo modo como aprendemos a respirar e a andar: é questão de tempo e a regra é a da intuição e da associação por analogia.
·é um conhecimento prático. Está ligado diretamente às nossas necessidades vitais.
·é impreciso => conceitos vagos, sem rigor, que não definem claramente seu conteúdo e seu alcance.
·é incoerente => associação, num mesmo raciocínio, de conceitos contraditórios, que se anulam em termos lógicos.
·é fragmentado => conceitos soltos, que não abrangem, de modo amplo e sistemático, o objeto estudado.
O senso comum é composto de conhecimentos soltos, superficiais, que não nasceram de reflexões profundas e abertas. É compartilhado pela maioria das pessoas. É constantemente marcado pela imprecisão, incoerência, fragmentação. O senso comum não é refletido, impõe-se sem críticas ao grupo social. Por ser um conjunto de concepções fragmentadas, muitas vezes incoerentes, condiciona a aceitação mecânica e passiva de valores não-questionados. Com freqüência se torna fonte de preconceitos, quando desconsidera opiniões divergentes.
O senso comum precisa se transformar em bom senso. Bom senso é a elaboração coerente do saber e a explicitação das intenções conscientes dos indivíduos livres. Segundo o filósofo Gramsci, o bom senso é “o núcleo sadio do senso comum.”
Ao contrário do senso comum, a Filosofia é uma atividade contínua e não algo que possamos atingir de uma vez por todas. Só conseguimos alcançar a Filosofia através da reflexão e da vivência filosófica. A missão da Filosofia é questionar as coisas estabelecidas, é problematizar, e muitas vezes tornar evidente uma realidade (denunciar um fato).
O SENTIDO DA PALAVRA FILOSOFIA
A Filosofia nasceu na Grécia, no século VI a. C.
Etimologicamente, a palavra Filosofia (philosophía) é formada por dois termos gregos:
philos => que traduz a idéia de amor
sophia => que significa sabedoria.
Filosofia, então, significa em sua estrutura verbal, amor à sabedoria, entendida como reflexão do homem acerca da vida e do mundo.
Sendo Filosofia amor à sabedoria e filósofo o amante do saber, esse saber não é qualquer saber. Esse saber se distingue do nosso primeiro saber. Se diferencia do saber do senso comum, aquele saber que se origina de nossas experiências sensíveis, aquele saber composto por opiniões sem fundamento, sem reflexão. O saber filosófico ultrapassa esse saber comum.
Conforme a tradição histórica, a criação da palavra Filosofia é atribuída ao grego Pitágoras.
Pitágoras, perguntado pelo príncipe Leonte, qual era a natureza de sua “sabedoria”, respondera: sou, apenas, um filósofo. Assumindo humildemente a posição de um “amante do saber”, alguém que procura a sabedoria, que busca alcançar a verdade.
A essência da Filosofia é a procura do saber e não a sua posse.
Se a Filosofia é a procura do saber e não a sua posse, podemos dizer que o trabalho filosófico é um trabalho de reflexão.
A palavra reflexão vem do verbo latino reflectere que significa voltar atrás. Filosofar, portanto, significa retornar, reconsiderar os dados disponíveis, revisar, examinar detidamente, prestar atenção e analisar com cuidado. A reflexão é o movimento pelo qual o pensamento volta-se para si mesmo, interrogando a si mesmo e colocando em questão o que já se conhece.
Com o decorrer do tempo, a palavra filosofia foi perdendo seu significado etimológico ( amor à sabedoria), passando a ser a própria sabedoria.
Na Grécia Antiga, o termo Filosofia passou a designar não apenas o amor a procura da sabedoria, mas um tipo especial de sabedoria. Aquela que nasce no uso metódico da razão, da investigação racional em busca do conhecimento. Nesse sentido o saber filosófico difere-se das explicações estabelecidas nos mitos.
Mito é um sistema de explicação fantasioso do mundo, expresso por narrativas fabulosas referentes a deuses, forças da natureza e seres humanos.
Ao contrário do mito, o saber filosófico procurava explicar o mundo por princípios racionais. A Filosofia preocupava-se com o desenvolvimento de raciocínios lógicos, tendo como finalidade desvendar as relações de causas e efeitos entre as coisas. O mito, por outro lado, tem um conteúdo explicativo que não busca convencer a consciência racional do homem. O mito atraí em torno de si toda a parcela do irracional existente no pensamento humano.
Com o nascimento da Filosofia (conhecimento racional do mundo) não significou o desaparecimento do mito. Por muito tempo ainda, os primeiros filósofos gregos compartilharam de diversas crenças míticas, enquanto desenvolviam o conhecimento racional que caracterizava a Filosofia.
O saber filosófico passou a designar, na Grécia Antiga, a totalidade do conhecimento racional desenvolvido pelo homem. Abrangia os mais diversos tipos de conhecimento, que se estendiam pela Matemática, Astronomia, Física, Biologia, Lógica, Ética etc. Todo o conjunto dos conhecimentos racionais integrava o universo do saber filosófico. À Filosofia interessava conhecer toda a realidade sem dividi-la em objetos específicos de estudo.
Na Idade Moderna, o vasto campo da Filosofia entrou em um processo de redução, na medida em que a realidade a ser conhecida passou a ser dividida, recortada, despertando estudos especializados. Aos poucos, conquistaram autonomia muitas ciências particulares, que se desligaram do abrangente saber filosófico. As ciências foram se especializando cada vez mais, e direcionando suas investigações a certos campos da realidade, como: a Matemática, Física, Química, Biologia, Antropologia, Psicologia, Sociologia etc.
Já em nossa época[O1] , prossegue esse processo de especialização do saber racional, pelo qual as diversas ciências particulares se desprendem da Filosofia e delimitam cada vez mais seus objetos de investigação científica.
Resta a Filosofia a busca da compreensão profunda de todos os seres, o trabalho de reflexão sobre os conhecimentos desenvolvidos por todas as ciências, a procura de respostas à finalidade, ao sentido e ao valor da vida e do mundo. À Filosofia, pertence o estudo geral dos seres, do nosso conhecimento e do valor das coisas. Em termos específicos, podemos situar dentro do campo filosófico aqueles estudos que se referem a temas como: Teoria do conhecimento, Fundamentos do saber científico, Lógica, Política, Ética, Estética etc.
Precisamos nos libertar do senso comum, aprendermos a desenvolver nosso senso crítico, ampliar nossa consciência reflexiva. A consciência reflexiva deverá estar voltada para:
·a consciência de si mesmo => crítica de si próprio enquanto pessoa e de seu papel individual e social, uma autocrítica;
·a consciência do mundo => compreensão do mundo natural e social e de suas possibilidades de mudanças.
Para iniciarmos o exercício filosófico, devemos partir da decisão de não aceitar como óbvias e evidentes as coisas, as idéias, os fatos, as situações, os valores, os comportamentos de nossa existência cotidiana; em tempo algum aceitá-los sem antes havê-los investigado e compreendido.
Analogia =>raciocínio por semelhança
Empírico => baseado na experiência comum, não metódica
Etimologia => parte da lingüística que estuda o étimo das palavras.
Étimo => o vocábulo que dá origem a outros, quanto ao significado.
Epideixes
http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/hfe/momentos/escola/sofistas/frames.htm
Os sofistas não encontraram uma clientela já pronta para os receber. Tiveram que a cortejar, persuadir o público sobre a importância dos seus serviços. Isto pressupõe, como não podia deixar de ser, a utilização de meios para chamar a atenção das pessoas e o recurso a métodos que, actualmente, se situam no campo da publicidade. Para se fazerem conhecer, para manifestarem a excelência do seu ensino e darem mostras da sua habilidade, os sofistas ofereciam uma exibição pública, chamada de epideixes. Esta podia acontecer em vários locais e é óbvio que os sofistas os escolhiam consoante a concentração de pessoas neles existente, uma vez que pretendiam, através da epideixes, dar-se a conhecer e cativar o maior número de alunos possível. Em geral dirigiam-se ao Ágora e aos ginásios.
Além disso, procuravam estar presentes nas várias celebrações festivas, excelente ocasião para se darem a conhecer e para porem à prova a sua competitividade. De facto, tinham nas festas óptimas oportunidades para entrar em confronto, procurando ganhar prémios como os poetas anteriormente haviam feito. Como Protágoras dizia "qualquer discussão era uma batalha verbal entre os intervenientes, em que um sai vencedor e o outro vencido" (Kerferd, 1981: pág.29).
Os sofistas eram também facilmente encontrados em campeonatos desportivos. Parece que Hípias fez várias exposições públicas nos Jogos Pan-Helénicos, em Olímpia, durante as quais se oferecia para falar de qualquer assunto de uma determinada lista preparada para o efeito e respondia a eventuais questões. Górgias discursou sobre variados assuntos no Teatro de Atenas, em Olímpia e em Delfos, durante os jogos
Mas não é tudo... As epideixes podiam ter ainda lugar em casas privadas, como o que aconteceu na casa de Cálias, no diálogo platónico "Protágoras".
Quais as formas que a epideixes podia tomar? Uma epideixes era, inicialmente, uma simples leitura. Protágoras terá sido o primeiro sofista a introduzir os debates e conferências como forma de epideixes. Essas conferências podiam ser públicas, podiam ser reservadas a uma escol e, portanto, já serem pagas, podiam ser simples palestras de propaganda, o que custava apenas 1 dracma, ou podiam ser lições técnicas. A epideixes podia basear-se num vivo confronto entre o sofista e o auditório, em que estes faziam perguntas a que o sofista procurava dar resposta. Em alternativa a este método, a epideixes podia apenas consistir num eloquente discurso proferido pelo sofista sobre um tema que havia preparado ou sobre um texto escrito. Estas declamações podiam ser meros exercícios de retórica, cujo principal objectivo era mostrar como o caso menos promissor também podia ser defendido. De uma maneira geral, o que os sofistas pretendiam com as epideixes era encantar e impressionar a multidão. Face a este propósito, um aspecto que os sofistas também não esqueciam era o seu traje e o seu porte. Não podemos desprezar o facto, como refere Marrou (1966: pág.87) de estarmos na Grécia e na Antiguidade, pelo que, para impressionar um auditório, o sofista não hesita em pretender a omnisciência e a infalibilidade. Como tal, "apresenta um tom doutoral, um comportamento solene ou inspirado, pronuncia as suas sentenças do alto de um trono elevado, revestindo mesmo, às vezes, parece, o costume pomposo do rapsodo no seu grande manto de púrpura" (Marrou, 1966: pág.87). De facto, alguns sofistas, tais como Hípias e Górgias, confeccionavam os seus próprios fatos, tal era a importância que atribuíam ao seu aspecto.
http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/hfe/momentos/escola/sofistas/frames.htm
Os sofistas não encontraram uma clientela já pronta para os receber. Tiveram que a cortejar, persuadir o público sobre a importância dos seus serviços. Isto pressupõe, como não podia deixar de ser, a utilização de meios para chamar a atenção das pessoas e o recurso a métodos que, actualmente, se situam no campo da publicidade. Para se fazerem conhecer, para manifestarem a excelência do seu ensino e darem mostras da sua habilidade, os sofistas ofereciam uma exibição pública, chamada de epideixes. Esta podia acontecer em vários locais e é óbvio que os sofistas os escolhiam consoante a concentração de pessoas neles existente, uma vez que pretendiam, através da epideixes, dar-se a conhecer e cativar o maior número de alunos possível. Em geral dirigiam-se ao Ágora e aos ginásios.
Além disso, procuravam estar presentes nas várias celebrações festivas, excelente ocasião para se darem a conhecer e para porem à prova a sua competitividade. De facto, tinham nas festas óptimas oportunidades para entrar em confronto, procurando ganhar prémios como os poetas anteriormente haviam feito. Como Protágoras dizia "qualquer discussão era uma batalha verbal entre os intervenientes, em que um sai vencedor e o outro vencido" (Kerferd, 1981: pág.29).
Os sofistas eram também facilmente encontrados em campeonatos desportivos. Parece que Hípias fez várias exposições públicas nos Jogos Pan-Helénicos, em Olímpia, durante as quais se oferecia para falar de qualquer assunto de uma determinada lista preparada para o efeito e respondia a eventuais questões. Górgias discursou sobre variados assuntos no Teatro de Atenas, em Olímpia e em Delfos, durante os jogos
Mas não é tudo... As epideixes podiam ter ainda lugar em casas privadas, como o que aconteceu na casa de Cálias, no diálogo platónico "Protágoras".
Quais as formas que a epideixes podia tomar? Uma epideixes era, inicialmente, uma simples leitura. Protágoras terá sido o primeiro sofista a introduzir os debates e conferências como forma de epideixes. Essas conferências podiam ser públicas, podiam ser reservadas a uma escol e, portanto, já serem pagas, podiam ser simples palestras de propaganda, o que custava apenas 1 dracma, ou podiam ser lições técnicas. A epideixes podia basear-se num vivo confronto entre o sofista e o auditório, em que estes faziam perguntas a que o sofista procurava dar resposta. Em alternativa a este método, a epideixes podia apenas consistir num eloquente discurso proferido pelo sofista sobre um tema que havia preparado ou sobre um texto escrito. Estas declamações podiam ser meros exercícios de retórica, cujo principal objectivo era mostrar como o caso menos promissor também podia ser defendido. De uma maneira geral, o que os sofistas pretendiam com as epideixes era encantar e impressionar a multidão. Face a este propósito, um aspecto que os sofistas também não esqueciam era o seu traje e o seu porte. Não podemos desprezar o facto, como refere Marrou (1966: pág.87) de estarmos na Grécia e na Antiguidade, pelo que, para impressionar um auditório, o sofista não hesita em pretender a omnisciência e a infalibilidade. Como tal, "apresenta um tom doutoral, um comportamento solene ou inspirado, pronuncia as suas sentenças do alto de um trono elevado, revestindo mesmo, às vezes, parece, o costume pomposo do rapsodo no seu grande manto de púrpura" (Marrou, 1966: pág.87). De facto, alguns sofistas, tais como Hípias e Górgias, confeccionavam os seus próprios fatos, tal era a importância que atribuíam ao seu aspecto.
Os Sofistas
O século de Péricles estende-se entre 440-404 a.C. É o período da hegemonia ateniense, a democracia triunfa. A situação política e social de Atenas explicará esse movimento. A aristocracia de nascimento será substituída pela da riqueza e esta pela democracia emergente.
Essas mudanças provocam conseqüências de valor moral e filosófica. Percebeu-se que as leis não eram de origens divinas, como até então haviam sido forjadas, mas de origem humana, uma vez que eram instáveis. Já não mais se questionava, como nos Pré-socráticos: Qual é a origem de todas as coisas? Como um único princípio pode dar origem á multiplicidade das coisas? Como aquilo que permanece sempre jovem, imortal e idêntico a si mesmo pode dar origem ao que é diferente dele, perecível e múltiplo? Como o uno dá origem ao múltiplo? Como e por que as coisas se movem? Como o imutável pode dar origem ao mutável? Como o múltiplo retorna ao uno? e sim: “Qual é para o homem o melhor meio de tirar proveito das condições em que se encontra e viver feliz, honrado, estimado? Como conseguir desempenhar um papel no Estado? Como proceder para convencer seus semelhantes? Como fazer adotar suas razões, suas idéias?"
Agora temos uma nova areté: a educação do homem grego na Cidade-Estado – o cidadão. O homem grego agora precisa estar preparado para ser cidadão. Ele precisa ser preparado para a vida prática, para vida política. Surge os sofistas.
Não era do interesse dos sofistas meditar sobre o ser como os eleatas, ou sobre a natureza como os físicos da Jônia. São educadores profissionais, estrangeiros itinerantes que comerciam seus conhecimentos, sua sabedoria, sua cultura, suas competências. São essencialmente homens que sabem obrar politicamente. São homens de poder, poder da palavra, homens que sabem como persuadir, como encantar uma platéia através de seus discursos. Estão à serviço da democracia grega nascente. São mestres na linguagem sob todas as formas, da lingüística (morfologia[1], gramática, sinonímia[2]) à retórica (estudo dos tropos[3], das sonoridades, da pertinência do discurso e de suas partes). São mestres da arte da educação do cidadão. São técnicos e professores de técnicas. Eram conhecidos como sophistés e esse substantivo era sempre acompanhado de um adjetivo, deinós, que significa formidável, maravilhoso, espantoso, terrível, amedrontador. Associado a sophistés, deinós é alguém que espanta e causa admiração por sua habilidade para inventar estratagema ou para argumentar.
Os sofistas eram peritos, especialistas na arte necessária aos membros de uma democracia: a arte da palavra. E cobravam pelos seus serviços. Seu profissionalismo foi duramente criticado por dois grupos: o grupo dos oligarcas ligados á aristocracia e o grupo ligado à Sócrates.
Eles ensinavam a arte de argumentar e persuadir. Essas técnicas eram fundamentais para o bom desempenho da cidadania ateniense. Os oligarcas diziam: ser cidadão é algo por natureza, a virtude cívica é inata. Os sofistas que eram estrangeiros não poderiam ensinar algo que já nascia com os atenienses. A real preocupação da aristocracia era perder espaço nas assembléias para as outras classes sociais já que agora elas poderiam discursar com mais propriedades nas assembléias, angariando votos e contrariando os interesses aristocráticos.
A crítica dos socráticos: os sofistas trabalham apenas com opiniões contrárias, ensinando a argumentar persuasivamente tanto em favor de uma como de outra, dependendo de quem está lhe pagando (seu ensino é apenas venal[4]), não importando e nem interessando a verdade (alétheia), que é sempre igual a si mesma e a mesma para todos. Sendo professores de opiniões (dóxa), oferecem um ensino prático, do qual pode retirar um proveito material. Recebendo dinheiro, o sofista perdia a liberdade de pensamento, sendo obrigado a conviver com quem quer que lhe pagasse e a ensinar o que lhe fosse exigido; mas a verdadeira sabedoria é algo que deve ser livremente compartilhado, e apenas entre amigos, entre os iguais, assim pensavam os socráticos.
O que traziam na bagagem:
1 – traziam todo o debate e toda a crise da filosofia decorrente das aporias criadas pela oposição irreconciliável entre o ser (eleata) e o devir (heraclitiano).
2 – os que viam da Jônia conheciam um saber também novo como a filosofia: a história, inventada por Heródoto de Halicarnasso. A história leva os sofistas à percepção das variações entre os povos, leis, costumes e idéias e a não dar valor absoluto aos costumes, leis e idéias dos gregos. Por isso estavam pouco dispostos a aceitar que costumes e leis fossem obra da natureza, pois a variação indica que são convenções humanas.
3 – o conhecimento sobre a medicina. Sabiam que a medicina se originara não de um presente dos deuses, mas de um esforço dos humanos que começara quando buscavam humanizar-se, diferenciando-se dos animais selvagens. A medicina é uma arte ou técnica fundada na observação e na experimentação. A medicina não separa corpo e alma, ela dá enorme importância à palavra, tanto para realizar a anamnese como para persuadir o doente a aceitar o tratamento e cooperar com a ação do médico, o qual, portanto, para agir sobre o corpo do paciente, precisa também agir sobre sua alma. Não por acaso, Empédocles, filósofo e médico, foi considerado o inventor da eloqüência. O modelo da medicina, particularmente as idéias da medida-moderação e da palavra doce e persuasiva do médico, será decisivo na formulação das idéias sofísticas.
4 – traziam a herança de alguns filósofos que haviam desenvolvido certos procedimentos de argumentação baseados na idéia de que ser, pensar e dizer são o mesmo. Heráclito e Zenão inventaram a dialética; Parmênides inventou a lógica; Empédocles inventou a eloqüência. Em suma, os pré-socráticos haviam desenvolvido, sem teorizar a respeito, maneiras de lidar com a linguagem ligadas á persuasão, à discussão, ao debate, à argumentação. Transformando essas maneiras em técnicas de linguagem, os sofistas chegaram a Atenas com os fundamentos da arte retórica na bagagem.
5 - trouxeram a técnica dos dissói logói – técnica de defender a favor de uma tese e logo depois defender contra a mesma tese. Transformaram a eloqüência em retórica, num combate de palavras.
Nómos e phisis
Os sofistas despertam nos atenienses um interesse maior pela dialética e pela retórica, as dúvidas quanto à pretensão da filosofia de conhecer a verdade última das coisas e as discussões sobre a diferença entre o nómos (a convenção, que depende de uma decisão humana) e a phýsis (a natureza, cuja ordem necessária independe da ação humana), optando pelo primeiro contra a segunda.
Nómos (a convenção acordada por um grupo e que se torna lei para esse grupo) deriva de nomós (divisão do território em distritos e regiões) e por isso seu primeiro significado é “aquilo que é atribuído numa partilha” e “aquilo de que se faz uso”;partindo deste último significado, nómos passa a significar os usos ou costumes, e daí, opinião geral ou máxima aceita por todos, o costume com força de lei ou a lei não-escrita, a lei costumeira.
A lei é por natureza ou por convenção? Em Atenas os oligarcas e os democratas eram partidos antagônicos, pois tais questões acirram suas rivalidades. Se a lei for por natureza (phýsis), não depende da decisão humana e é inviolável; se for por convenção (nómos), pode ser alterada e mesmo transgredida.
Os oligarcas acreditavam ser autóctones, nascidos da própria terra por obra da natureza, logo, as leis seriam naturais (phýsei). Dizer que um uso, um valor ou uma lei são por natureza é dizer que são necessários, absolutos, perenes[5] e, por isso mesmo, superiores ao que é por nómos, pois a vontade dos homens é variável, relativa e inconstante. Assim, os aristocratas podiam considerar suas leis superiores às da democracia, cuja origem humana todos conheciam.
Os sofistas defendiam o nómos dos democratas, pois eram formados no conhecimento da história e na explicação médica sobre o processo de humanização do homem por meio dos costumes. Afirmavam que o costume e a lei não-escrita não são por natureza ou naturais, mas são nómos, isto é, por convenção, e por isso relativos a cada sociedade. Tanto a aristocracia quanto, a democracia são convenções social e humana e não uma instituição natural ou divina.
Pensavam os sofistas: tudo é por convenção, tudo pode ser ensinado, o que seria impossível se já trouxéssemos em nós, de modo inato ou por natureza, todas as habilidades, leis, idéias, normas e costumes. Assim sendo, a virtude pode ser considerada uma convenção social. A areté é nómos e por isso pode ser ensinada.
A retórica
Para os sofistas a retórica é uma tékhne rhetoriké, é a arte de persuadir oferecendo as razões ou os argumentos e definições de uma coisa, tendo como base não o que a coisa seria em si mesma ou por natureza,
mas tal como ela nos parece e nos aparece e tal como nos será útil. Ou seja, a retórica parte de nossas opiniões sobre as coisas e nos ensina a persuadir os outros de que nossas opiniões sobre as coisas é a melhor. A arte de persuasão opera com o pressuposto de que as opiniões, porque são opiniões, são conflitantes e contraditórias e, portanto, para realizar-se, a persuasão precisa da dialética, isto é, do confronto de argumentos contrários, os dissói logói. A retórica, arte da persuasão, apóia-se na dialética, arte da discussão. A retórica é por excelência uma arte democrática que não se propaga numa tirania – a tirania impõe a opinião de um só; a retórica pressupõe o direito de todos à opinião. A tirania usa a força; a retórica, argumentos.
O que ensinavam:
Se designavam professores de dialética e retórica.
Com a dialética ensinavam: a dizer sim e não para a mesma questão. A defender e a atacar o mesmo assunto com argumentos igualmente fortes;
Com a retórica ensinavam: a encontrar expedientes[6] verbais e emotivos para fortalecer um argumento, fazendo-o melhor ou o mais persuasivo, superior aos de outros.
Os sofistas se interessavam pelos aspectos gramaticais e lógicos da linguagem e pela correção no uso das palavras para que a denominação das coisas fosse sempre correta e melhor.
1 - das idéias desenvolvidas pelos médicos: de que a persuasão deve atingir primeiro o sentimento ou o coração do ouvinte, e somente depois a razão.
2 - ensinavam a inventar ou encontrar figuras de linguagem poderosas – as metáforas;
3 – a falar: com ritmo (como os poetas); com graça (como os atores); e elegância (como os grandes políticos e magistrados)
4 – empregavam a música (tanto para ensinar o ritmo das palavras numa sentença como para acompanhar o discurso comovente)
5 – a dança (tanto para ensinar gesticulação e postura corporal como para acompanhar certos tipos de discursos)
6 – ensinavam exercícios para fortalecer a memória (pois um bom orador deve falar sem ler);
7 – ensinavam dicção (para que fossem bem entendidos por aqueles que os escutassem).
Os sofistas eram muito individualistas para admitir um mestre fundador, por isso não pertenciam a escola alguma. Tinham em comum as técnicas de argumentação, o profissionalismo, o convencionalismo e o ceticismo quanto à pretensão da filosofia de conhecer a phýsis como realidade originária e verdade última de todas as coisas.
Principais sofistas[7]:
Protágoras de Abdera, viveu entre 480-408 a.C.; Górgias de Leontini, viveu entre 483-375 a.C.;
Outros:
Antifon; Hípias de Elis; Pródico de Céos; Crítias; Licofon; Trasímaco de Calcedônia; Eutidemo e Dionisodoro (estes são os fundadores da erística[8])
Bibliografia
BÉRGSON, Henri. Cursos sobre a Filosofia Grega. SP. Martins fontes, 2005.
CASSIN, Bárbara. Ensaios sofísticos. SP, Ed. Siciliano,1990.
CHAUÍ, Marilena. Introdução à História da Filosofia: dos pré-socráticos a Aristóteles. SP, Companhia das Letras, 2002.
O século de Péricles estende-se entre 440-404 a.C. É o período da hegemonia ateniense, a democracia triunfa. A situação política e social de Atenas explicará esse movimento. A aristocracia de nascimento será substituída pela da riqueza e esta pela democracia emergente.
Essas mudanças provocam conseqüências de valor moral e filosófica. Percebeu-se que as leis não eram de origens divinas, como até então haviam sido forjadas, mas de origem humana, uma vez que eram instáveis. Já não mais se questionava, como nos Pré-socráticos: Qual é a origem de todas as coisas? Como um único princípio pode dar origem á multiplicidade das coisas? Como aquilo que permanece sempre jovem, imortal e idêntico a si mesmo pode dar origem ao que é diferente dele, perecível e múltiplo? Como o uno dá origem ao múltiplo? Como e por que as coisas se movem? Como o imutável pode dar origem ao mutável? Como o múltiplo retorna ao uno? e sim: “Qual é para o homem o melhor meio de tirar proveito das condições em que se encontra e viver feliz, honrado, estimado? Como conseguir desempenhar um papel no Estado? Como proceder para convencer seus semelhantes? Como fazer adotar suas razões, suas idéias?"
Agora temos uma nova areté: a educação do homem grego na Cidade-Estado – o cidadão. O homem grego agora precisa estar preparado para ser cidadão. Ele precisa ser preparado para a vida prática, para vida política. Surge os sofistas.
Não era do interesse dos sofistas meditar sobre o ser como os eleatas, ou sobre a natureza como os físicos da Jônia. São educadores profissionais, estrangeiros itinerantes que comerciam seus conhecimentos, sua sabedoria, sua cultura, suas competências. São essencialmente homens que sabem obrar politicamente. São homens de poder, poder da palavra, homens que sabem como persuadir, como encantar uma platéia através de seus discursos. Estão à serviço da democracia grega nascente. São mestres na linguagem sob todas as formas, da lingüística (morfologia[1], gramática, sinonímia[2]) à retórica (estudo dos tropos[3], das sonoridades, da pertinência do discurso e de suas partes). São mestres da arte da educação do cidadão. São técnicos e professores de técnicas. Eram conhecidos como sophistés e esse substantivo era sempre acompanhado de um adjetivo, deinós, que significa formidável, maravilhoso, espantoso, terrível, amedrontador. Associado a sophistés, deinós é alguém que espanta e causa admiração por sua habilidade para inventar estratagema ou para argumentar.
Os sofistas eram peritos, especialistas na arte necessária aos membros de uma democracia: a arte da palavra. E cobravam pelos seus serviços. Seu profissionalismo foi duramente criticado por dois grupos: o grupo dos oligarcas ligados á aristocracia e o grupo ligado à Sócrates.
Eles ensinavam a arte de argumentar e persuadir. Essas técnicas eram fundamentais para o bom desempenho da cidadania ateniense. Os oligarcas diziam: ser cidadão é algo por natureza, a virtude cívica é inata. Os sofistas que eram estrangeiros não poderiam ensinar algo que já nascia com os atenienses. A real preocupação da aristocracia era perder espaço nas assembléias para as outras classes sociais já que agora elas poderiam discursar com mais propriedades nas assembléias, angariando votos e contrariando os interesses aristocráticos.
A crítica dos socráticos: os sofistas trabalham apenas com opiniões contrárias, ensinando a argumentar persuasivamente tanto em favor de uma como de outra, dependendo de quem está lhe pagando (seu ensino é apenas venal[4]), não importando e nem interessando a verdade (alétheia), que é sempre igual a si mesma e a mesma para todos. Sendo professores de opiniões (dóxa), oferecem um ensino prático, do qual pode retirar um proveito material. Recebendo dinheiro, o sofista perdia a liberdade de pensamento, sendo obrigado a conviver com quem quer que lhe pagasse e a ensinar o que lhe fosse exigido; mas a verdadeira sabedoria é algo que deve ser livremente compartilhado, e apenas entre amigos, entre os iguais, assim pensavam os socráticos.
O que traziam na bagagem:
1 – traziam todo o debate e toda a crise da filosofia decorrente das aporias criadas pela oposição irreconciliável entre o ser (eleata) e o devir (heraclitiano).
2 – os que viam da Jônia conheciam um saber também novo como a filosofia: a história, inventada por Heródoto de Halicarnasso. A história leva os sofistas à percepção das variações entre os povos, leis, costumes e idéias e a não dar valor absoluto aos costumes, leis e idéias dos gregos. Por isso estavam pouco dispostos a aceitar que costumes e leis fossem obra da natureza, pois a variação indica que são convenções humanas.
3 – o conhecimento sobre a medicina. Sabiam que a medicina se originara não de um presente dos deuses, mas de um esforço dos humanos que começara quando buscavam humanizar-se, diferenciando-se dos animais selvagens. A medicina é uma arte ou técnica fundada na observação e na experimentação. A medicina não separa corpo e alma, ela dá enorme importância à palavra, tanto para realizar a anamnese como para persuadir o doente a aceitar o tratamento e cooperar com a ação do médico, o qual, portanto, para agir sobre o corpo do paciente, precisa também agir sobre sua alma. Não por acaso, Empédocles, filósofo e médico, foi considerado o inventor da eloqüência. O modelo da medicina, particularmente as idéias da medida-moderação e da palavra doce e persuasiva do médico, será decisivo na formulação das idéias sofísticas.
4 – traziam a herança de alguns filósofos que haviam desenvolvido certos procedimentos de argumentação baseados na idéia de que ser, pensar e dizer são o mesmo. Heráclito e Zenão inventaram a dialética; Parmênides inventou a lógica; Empédocles inventou a eloqüência. Em suma, os pré-socráticos haviam desenvolvido, sem teorizar a respeito, maneiras de lidar com a linguagem ligadas á persuasão, à discussão, ao debate, à argumentação. Transformando essas maneiras em técnicas de linguagem, os sofistas chegaram a Atenas com os fundamentos da arte retórica na bagagem.
5 - trouxeram a técnica dos dissói logói – técnica de defender a favor de uma tese e logo depois defender contra a mesma tese. Transformaram a eloqüência em retórica, num combate de palavras.
Nómos e phisis
Os sofistas despertam nos atenienses um interesse maior pela dialética e pela retórica, as dúvidas quanto à pretensão da filosofia de conhecer a verdade última das coisas e as discussões sobre a diferença entre o nómos (a convenção, que depende de uma decisão humana) e a phýsis (a natureza, cuja ordem necessária independe da ação humana), optando pelo primeiro contra a segunda.
Nómos (a convenção acordada por um grupo e que se torna lei para esse grupo) deriva de nomós (divisão do território em distritos e regiões) e por isso seu primeiro significado é “aquilo que é atribuído numa partilha” e “aquilo de que se faz uso”;partindo deste último significado, nómos passa a significar os usos ou costumes, e daí, opinião geral ou máxima aceita por todos, o costume com força de lei ou a lei não-escrita, a lei costumeira.
A lei é por natureza ou por convenção? Em Atenas os oligarcas e os democratas eram partidos antagônicos, pois tais questões acirram suas rivalidades. Se a lei for por natureza (phýsis), não depende da decisão humana e é inviolável; se for por convenção (nómos), pode ser alterada e mesmo transgredida.
Os oligarcas acreditavam ser autóctones, nascidos da própria terra por obra da natureza, logo, as leis seriam naturais (phýsei). Dizer que um uso, um valor ou uma lei são por natureza é dizer que são necessários, absolutos, perenes[5] e, por isso mesmo, superiores ao que é por nómos, pois a vontade dos homens é variável, relativa e inconstante. Assim, os aristocratas podiam considerar suas leis superiores às da democracia, cuja origem humana todos conheciam.
Os sofistas defendiam o nómos dos democratas, pois eram formados no conhecimento da história e na explicação médica sobre o processo de humanização do homem por meio dos costumes. Afirmavam que o costume e a lei não-escrita não são por natureza ou naturais, mas são nómos, isto é, por convenção, e por isso relativos a cada sociedade. Tanto a aristocracia quanto, a democracia são convenções social e humana e não uma instituição natural ou divina.
Pensavam os sofistas: tudo é por convenção, tudo pode ser ensinado, o que seria impossível se já trouxéssemos em nós, de modo inato ou por natureza, todas as habilidades, leis, idéias, normas e costumes. Assim sendo, a virtude pode ser considerada uma convenção social. A areté é nómos e por isso pode ser ensinada.
A retórica
Para os sofistas a retórica é uma tékhne rhetoriké, é a arte de persuadir oferecendo as razões ou os argumentos e definições de uma coisa, tendo como base não o que a coisa seria em si mesma ou por natureza,
mas tal como ela nos parece e nos aparece e tal como nos será útil. Ou seja, a retórica parte de nossas opiniões sobre as coisas e nos ensina a persuadir os outros de que nossas opiniões sobre as coisas é a melhor. A arte de persuasão opera com o pressuposto de que as opiniões, porque são opiniões, são conflitantes e contraditórias e, portanto, para realizar-se, a persuasão precisa da dialética, isto é, do confronto de argumentos contrários, os dissói logói. A retórica, arte da persuasão, apóia-se na dialética, arte da discussão. A retórica é por excelência uma arte democrática que não se propaga numa tirania – a tirania impõe a opinião de um só; a retórica pressupõe o direito de todos à opinião. A tirania usa a força; a retórica, argumentos.
O que ensinavam:
Se designavam professores de dialética e retórica.
Com a dialética ensinavam: a dizer sim e não para a mesma questão. A defender e a atacar o mesmo assunto com argumentos igualmente fortes;
Com a retórica ensinavam: a encontrar expedientes[6] verbais e emotivos para fortalecer um argumento, fazendo-o melhor ou o mais persuasivo, superior aos de outros.
Os sofistas se interessavam pelos aspectos gramaticais e lógicos da linguagem e pela correção no uso das palavras para que a denominação das coisas fosse sempre correta e melhor.
1 - das idéias desenvolvidas pelos médicos: de que a persuasão deve atingir primeiro o sentimento ou o coração do ouvinte, e somente depois a razão.
2 - ensinavam a inventar ou encontrar figuras de linguagem poderosas – as metáforas;
3 – a falar: com ritmo (como os poetas); com graça (como os atores); e elegância (como os grandes políticos e magistrados)
4 – empregavam a música (tanto para ensinar o ritmo das palavras numa sentença como para acompanhar o discurso comovente)
5 – a dança (tanto para ensinar gesticulação e postura corporal como para acompanhar certos tipos de discursos)
6 – ensinavam exercícios para fortalecer a memória (pois um bom orador deve falar sem ler);
7 – ensinavam dicção (para que fossem bem entendidos por aqueles que os escutassem).
Os sofistas eram muito individualistas para admitir um mestre fundador, por isso não pertenciam a escola alguma. Tinham em comum as técnicas de argumentação, o profissionalismo, o convencionalismo e o ceticismo quanto à pretensão da filosofia de conhecer a phýsis como realidade originária e verdade última de todas as coisas.
Principais sofistas[7]:
Protágoras de Abdera, viveu entre 480-408 a.C.; Górgias de Leontini, viveu entre 483-375 a.C.;
Outros:
Antifon; Hípias de Elis; Pródico de Céos; Crítias; Licofon; Trasímaco de Calcedônia; Eutidemo e Dionisodoro (estes são os fundadores da erística[8])
Bibliografia
BÉRGSON, Henri. Cursos sobre a Filosofia Grega. SP. Martins fontes, 2005.
CASSIN, Bárbara. Ensaios sofísticos. SP, Ed. Siciliano,1990.
CHAUÍ, Marilena. Introdução à História da Filosofia: dos pré-socráticos a Aristóteles. SP, Companhia das Letras, 2002.
Indicação de leitura:
ROMEYER-DHERBEY, Gilbert. Os Sofistas. Ed. 70. Biblioteca Básica de filosofia. Março 1999.
Site de Sebo Virtual, é sério, muito bom. Pode encontrar este livro (acima) com preço muito bom e em excelente estado de conservação . Recomendo:
[1] morfologia-> gram. Estudo da formação e da estrutura, da flexão e da classificação das palavras (Dic. Michaeles – UOL)
[2] sinonímia-> emprego de sinônimos (idem)
[3] tropos-> s.m. Gram. Emprego de palavra ou expressão em sentido figurado. (idem)
[4] venal-> que pode ser vendido (idem)
[5] perene-> que não tem fim; eterno, perpétuo (idem)
[6] expediente-> que facilita, meio de sair de um embaraço, de vencer uma dificuldade (Dic. Michaeles – UOL).
[7] as datas de vida e morte dos sofistas são imprecisas, cada autor coloca uma data distinta, logo essas datas são aproximadas.
[8] erística-> arte que tem por objetivo assegurar o triunfo na discussão, seja qual for a causa que se sustente (Henri Bergson, p. 260)
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